sexta-feira, 2 de maio de 2008

PORTUGAL

Hélder Pacheco, Professor e escritor

No Grande Auditório do Soviete Supremo do Nacional-Centralismo, reuniu a respectiva assembleia-geral para análise, discussão e propostas relativas aos pontos únicos da agenda «Pode o Império Centralista continuar a consentir que o F. C. Porto ganhe campeonatos? Pode o Império consentir que uma equipa da província, sem representatividade nacional, mantenha a supremacia sobre as glórias do centralismo?»

A tais questões, pronunciaram-se os seguintes representantes dos Organismos Tutelares do Centralismo da Confraria dos Centralistas Devoristas, que advertiu; da Confraria Centralista dos Gestores 7+ (acima dos 7 empregos), que berrou; da Confraria Centralista dos Gestores 7/5 (entre 7 e 5 empregos), que uivou; da Confraria Intelectual Centralista, que bolsou; da Confraria dos Assessores Centralistas, que gritou; da Confraria de Legisladores Centralistas, que decretou; da Confraria dos Grandes Incompetentes Centralistas, que dejectou; da Confraria dos Médios Incompetentes Centralistas, que arengou; da Confraria dos Provincianos Convertidos ao Centralismo, que grunhiu; da Confraria dos Centralistas subvencionados pelo Estado, que cuspiu; da Confraria dos Centralistas nomeados por proximidade do sistema, que ganiu; da Confraria dos Centralistas infiltrados nos Meios de Comunicação, que ladrou; da Corporação dos Centralistas Avençados, que exortou; da Corporação dos Centralistas Disfarçados, que invectivou; da Confraria Centralista da vista grossa à Insegurança no país, que programou; da Confraria dos Consultores Centralistas, que bradou; da Corporação Centralista de Comentadores de TV, que expeliu; da Corporação Centralista dos Acumuladores de Subsídios, que ejaculou; da Corporação Centralista promotora do abastardamento da Língua Portuguesa, que perdigotou; da Corporação Centralista do Cosmopolitismo Importado, que mesurou; da Corporação do Proteccionismo Centralista, que rezingou; da Corporação Centralista dos Exterminadores de Serviços Regionais, que peidorreou; da Corporação dos Yes-Men and Job for the Boys Centralization System, que arrotou; da Corporação dos reality-shows Centralistas, que discorreu; da Corporação dos Esbanjadores Centralistas, que vituperou; da Corporação Centralista dos Saudosos da Censura Prévia, que baliu; da Corporação Centralista dos Grupos de Trabalho, que praguejou, e todos em uníssono votaram: «Não podemos consentir!» e «É ultrajante!».

Face à unanimidade, a Assembleia aprovou as seguintes conclusões 1.º - Uma cidade a que o centralismo retirou quase tudo: emprego qualificado, sedes de empresas, serviços, investimento público, etc., não pode manter um clube que ganha campeonatos consecutivamente; 2.º -A única coisa que o centralismo ainda não conseguiu extorquir ao Porto são os campeonatos; 3.º - Como os clubes centralistas não ganham no campo, é preciso fazê-los ganhar em jogos fora do campo.

Para isso, serão adoptadas medidas imediatas a) lançar uma OPA sobre o F.C. Porto, transferindo-o para a capital; b) aumentar o IVA do F. C. P., em 80% e os impostos em 90%, para o fazer ir à falência; c) depois do dourado, lançar apitos prateados, verdes, laranjas, vermelhos e até PINK - cor favorita dos centralistas - para descredibilizar o F. C. P.; d) formar um consórcio editorial para publicar exclusivamente livros de autores de nomeada - designadamente mortos ou moribundos - contra o F. C. P.; e) classificando-o como local altamente perigoso para o centralismo, expropriar o Estádio do Dragão por razões de Estado; f) fazer aumentar a taxa de desemprego da Área Metropolitana do Porto para níveis que obriguem à emigração dos adeptos do F. C. P. para trabalhar na Galiza; g) legislar no sentido de impedir os menores de 90 anos de assistirem aos jogos do F. C. P.; h) em caso de insucesso destas medidas, determinar que, no início dos campeonatos, os clubes do centralismo partam com 20 pontos de avanço.

Mal esta notícia chegou à cidade, na Vitória, na Sé, em Campanhã, em Lordelo, no Aleixo, no Cerco do Porto, no Monte Crasto, no Monte da Virgem, nas Cachinas, em Rio Tinto, na Feira, em Avintes, Custóias, Valongo e por aí fora, em toda a parte onde há dragões, milhares de bandeiras azuis se agitaram. E, enquanto os mais velhos cantavam a Maria da Fonte «Pela santa liberdade / Triunfar ou perecer», todos faziam o gesto do zé-povinho na direcção do antigo Sul (agora mudado pelos centralistas para West Coast) e os jovens portistas cantavam: «Esta vida de dragão / Só dá campeão! Tra-lará-lará - lará, lará-lará.»

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