sexta-feira, 3 de outubro de 2008

lisboa a capital do antigo império

by VLX

E EM CASA OS PROCURADORES NÃO PROCURAM?
De Lisboa saem tantas equipas especiais de Procuradores, supostamente dos mais avisados, para irem investigar episódios em Felgueiras ou jogos do Gondomarense com um Trinca-Espinhas qualquer que eu imagino que não tenham sobrado Procuradores livres, suficientemente livres para investigarem a própria Lisboa, antiga capital do Império e hoje da pouca-vergonha.

Pois o Município que ainda há pouco se lamuriava, choramingando, por não ter dinheiro e implorava, mendigando, condições especiais (que lhe foram oferecidas) andava há anos a distribuir animadamente casinhas, lojas, ateliers e sabe-se lá o que mais aos amigalhaços. Ou aos amigalhaços dos amigalhaços. E isto corre todo o espectro partidário: todos ofereceram e a todos foram oferecidas casas sem qualquer critério, ao sabor do apetite ou das conveniências de quem mandava. Ao longo de dezenas de anos, elementos de todos os partidos deram as mãos à volta de um tal de património disperso do município para o oferecerem a quem muito bem entendiam, sem regra nem transparência. Vai daí, quem tinha conhecimentos e cunhas disponíveis dispunha também muito alegremente de uma palhota simpática a preços módicos, fosse ele pintor, escritor, jornalista, político ou até vereador ou funcionário municipal. Ou filho. Gostei particularmente daquele político (chamo-lhe Cândido) que alegava já não residir numa dessas casas por a ter cedido ao filho, justificando a transferência por si decidida por não ter meios para dar uma casa ao filho. Comovente. Também fabulosa a tese daquele que pretendia ter uma casa de reserva, para o caso de se divorciar outra vez.

E todos sabiam. E todos pediam. Todos, dentro de um círculo restrito, claro, mas que atravessava todos os partidos políticos ou aqueles mais significativos. Sem regras se distribuía pelos amigos ou a pedido destes o património público lisboeta, de forma completamente arbitrária.

Se isto se tivesse passado numa outra qualquer cidade do país cairia em Lisboa o Carmo e a Trindade e vinham de lá batalhões de Procuradores investigar, com Saldanha Sanches a comentar, indignado, a vigarice nas televisões. Como é em Lisboa e por atingir todos os amigos, os amigos todos a consideram normal e ainda se vai abafar tudo. Espero que o Senhor Procurador não a considere assim e se mexa porque é preciso saber quem deu, a quem, o quê e quando. E depois averiguar que contrapartidas se verificaram (um aparecimento na campanha eleitoral seguinte? o oferecimento de uma obra de arte? um comentário elogioso nas televisões ou nos jornais?). O que não pode acontecer é não acontecer nada.

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