terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

de uma "lavandaria" perto de si:(by Jorge Fiel)

Como eu gostava de ter sido um dos bravos que a 9 de Julho de 1832 desembarcaram no Mindelo e acompanharam D. Pedro IV até ao Porto, onde o exército libertador esteve durante mais de um ano cercado pela tropa realista, leal a D. Miguel, o rei absolutista e usurpador.

O cerco do Porto (Julho 1832-Agosto 1833) é uma das mais belas e gloriosas histórias da minha cidade, que em tributo à sua heróica resistência, conquistou o direito a inscrever no seu brasão o qualificativo de “mui nobre, invicta e sempre leal”, concedido por D. Pedro IV de Portugal – ou D. Pedro I do Brasil.

Nascido no ano da Revolução Francesa (1789), o Rei Soldado foi, no século XIX, um misto, avant la lettre, de Amílcar Cabral e Che Guevara.

É difícil não simpatizar com um rei anti-colonialista que ao proclamar a independência do Brasil (dando o célebre grito do Ipiranga) prescindiu do trono de Portugal.

É difícil não simpatizar com um imperador que mostrou o desapego ao poder ao abdicar da coroa brasileira, nove anos depois de ter ser aclamado, para assumir o comando do exército que libertou o país do jugo absolutista que o seu irmão Miguel queria impor, faltando ao que lhe tinha prometido.

Apesar de ter faltado tudo na cidade, durante os longos e perigoso 13 meses que durou o cerco, eu gostaria muito de ter estado a lutar pela liberdade e os outros ideais liberais, de arma na mão, ao lado de Alexandre Herculano, Joaquim António de Aguiar ou Almeida Garrett (quem sabe teria ganho o direito a entrar para a toponímia e ser nome de uma avenida ou de um praça!).

Apesar de correr o risco de encontrar a morte, por tifo, cólera ou na ponta de uma bala realista, eu adoraria ter participado na corajosa defesa da Serra do Pilar, comandada pelo general Torres, e de ter estado sob as ordens do marechal Saldanha na batalha que rechaçou uma incursão realista no lugar que, em homenagem à bravura dos defensores do Porto, se viria a chamar a rua do Heroísmo.

Ao cabo de um ano, com o apoio da população tripeira, os 12 mil soldados do exército libertador (o contingente dos bravos do Mindelo foi engrossado pelos voluntários, à época conhecidos por “polacos”) aguentaram sitiados as ofensivas dos 60 mil soldados realistas e lograram romper o cerco e partir à conquista de Lisboa.

D. Pedro jamais esqueceu o vibrante apoio das gentes do Porto. Para lhes agradecer, usou o gesto sem precedentes de deixar o seu coração em testamento à cidade.

Após a sua morte prematura em 1834, com apenas 36 anos, a viúva cumpriu-lhe a vontade e entregou ao Porto o coração de D. Pedro, que está guardado na igreja da Lapa - e é um das mais preciosas e simbólicas relíquias que a cidade alberga.

Como eu gostaria de ter escrito isto.


2 comentários:

dragao vila pouca disse...

Zappa, é um belo artigo sem dúvida e eu estou contigo: também não me importava de o ter escrito.

Um abraço

Luis disse...

Zappa, é disto que o POBO gosta.

Abraço