Arminda vive na Tapada das Mercês. É funcionária pública, desde o 1º dia da sua vida profissional. Entra sempre entre as 9h15 e as 9h45, mas se tem algum atraso, não há problema, pois os colegas picam-lhe o ponto por ela. Arminda demora sempre uma hora ou mais a almoçar e independentemente de alargar este intervalo, sai invariavelmente ás 18h. Alias, pode-se acertar o relógio pela hora de saída da Arminda. Arminda todos os anos tem mais uma regalia ou aumento salarial, pelas diuturnidades, subsídio disto e daquilo, e até por uma progressão automática na carreira. No entanto queixa-se do que ganha, mas não abdica do pequeno almoço ao balcão do café da esquina, habito diário de muitos anos. Esta sempre a fazer alarde dos seus direitos, goza 30 dias de férias por ano, mas na verdade não tem muito que fazer pois o seus departamento esta sobre dimensionado. É uma burocrata por excelência, teria uma avaliação sofrível em qualquer canto do planeta mas aqui recebeu excelente, tal como todas as pessoas do seu Ministério. Arminda sabe que não precisa de se esforçar, pois nunca será despedida. Há riscos que não vale a pena correr e com o passar dos anos, a barreira da mediania vai sendo cada vez mais baixa. O ano passado recebeu 2,9% de aumento, mt mais que as suas amigas. Num ano de deflação e descida do juro e petróleo, fartou-se de poupar dinheiro. Nos outros anos tem recebido um qq aumento, ainda que nem sempre cubra a inflação anunciada.
Este ano, ninguém lhe propôs redução salarial, mas sabe que os aumentos serão nulos, coisa irrelevante face à reduzida inflação. Vai compensar com entradas mais tarde e saídas mais cedo. O estratagema do colega picar o ponto irá ser mais frequente. A seu tempo com as progressões automáticas chega lá. Não fica sem dormir.
O António ficou sem prémio, com uma redução no salário de 10% e viu os seus impostos a aumentar.
A Arminda teve aumento nulo mas ganhou uma diuturnidade e tb viu os seus impostos a aumentar.
Curiosa lógica esta.
(via 31 da armada)
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