quinta-feira, 13 de maio de 2010

Privado vs Publico

António é um quadro de uma pequena empresa dos arredores de Lisboa. Acorda cedo, atravessa a ponte e está invariavelmente a trabalhar no escritório em Alfragide, raramente depois das 8h30. Ganha razoavelmente, para quem tem apenas o 12º ano. É um trabalhador sem rasgos, mas fiável, cumpridor e competente. Por vezes, faz serão, sempre que há uma urgência ou uma situação imprevisível. Outras vezes almoça em apenas meia hora, para recuperar algum tempo perdido. Foi consecutivamente aumentado ao longo da sua carreira, mas o maior crescimento salarial, teve-o quando aos 35 anos resolveu arriscar num projecto novo, depois de se ver no desemprego por por redução de quadros da sua anterior empresa. Nos anos bons, dependendo da sua performance e dos resultados da sua empresa, recebeu um bónus correspondente a dois salários. Desde 2008 que o João não recebe qualquer aumento salarial e este ano, vieram propor-lhe um corte de salário de 10%. Os bónus são hoje apenas uma ténue recordação.


Arminda vive na Tapada das Mercês. É funcionária pública, desde o 1º dia da sua vida profissional. Entra sempre entre as 9h15 e as 9h45, mas se tem algum atraso, não há problema, pois os colegas picam-lhe o ponto por ela. Arminda demora sempre uma hora ou mais a almoçar e independentemente de alargar este intervalo, sai invariavelmente ás 18h. Alias, pode-se acertar o relógio pela hora de saída da Arminda. Arminda todos os anos tem mais uma regalia ou aumento salarial, pelas diuturnidades, subsídio disto e daquilo, e até por uma progressão automática na carreira. No entanto queixa-se do que ganha, mas não abdica do pequeno almoço ao balcão do café da esquina, habito diário de muitos anos. Esta sempre a fazer alarde dos seus direitos, goza 30 dias de férias por ano, mas na verdade não tem muito que fazer pois o seus departamento esta sobre dimensionado. É uma burocrata por excelência, teria uma avaliação sofrível em qualquer canto do planeta mas aqui recebeu excelente, tal como todas as pessoas do seu Ministério. Arminda sabe que não precisa de se esforçar, pois nunca será despedida. Há riscos que não vale a pena correr e com o passar dos anos, a barreira da mediania vai sendo cada vez mais baixa. O ano passado recebeu 2,9% de aumento, mt mais que as suas amigas. Num ano de deflação e descida do juro e petróleo, fartou-se de poupar dinheiro. Nos outros anos tem recebido um qq aumento, ainda que nem sempre cubra a inflação anunciada.
Este ano, ninguém lhe propôs redução salarial, mas sabe que os aumentos serão nulos, coisa irrelevante face à reduzida inflação. Vai compensar com entradas mais tarde e saídas mais cedo. O estratagema do colega picar o ponto irá ser mais frequente. A seu tempo com as progressões automáticas chega lá. Não fica sem dormir.

O António ficou sem prémio, com uma redução no salário de 10% e viu os seus impostos a aumentar.
A Arminda teve aumento nulo mas ganhou uma diuturnidade e tb viu os seus impostos a aumentar.

Curiosa lógica esta.
(via 31 da armada)

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