terça-feira, 1 de junho de 2010

Portugal aos Portugueses das suas Terras

Regionalização da culpa

Chegou a mim uma imagem com uma temática que já tenho vindo a pensar em escrevinhar por aqui há bastante tempo mas que, por falta de oportunidade, nunca me cheguei à frente. Hoje não escapa. Os dados referem-se a 2005:

Comecemos pelo início.

Quando se diz que o Norte trabalha para que o Sul descanse à sombra da bananeira, apreciando e abusando da riqueza produzida pelos primeiros, essas acepções resultam normalmente em riso ou incredulidades de variada índole. Afinal de contas, como pode o Norte ser o motor da riqueza e, ao mesmo tempo, as estatísticas oficiais mostrarem o oposto? Seria curioso entrar por aí - e certamente o farei a breve trecho - mas fiquemo-nos, para já, pelo tema quente da actualidade: a dívida nacional. Analisarei a questão do PIB e afins num outro dia.

Já expliquei variadas vezes que o nosso problema não é a dívida pública, mas a dívida privada. Ao lado dos 120 mil Milhões que o Sector Público deve, há ainda 260 milM oriundos das famílias e empresas por aí espalhadas. A questão central é: onde andam elas espalhadas? Será que veremos, mais uma vez, centralismo? Será que até na dívida há centralismo?

Segundo o Boletim de Abril do Banco de Portugal (Maio só sairá daqui a uns dias, mas não constituirá surpresa), a resposta é positiva: o distrito de Lisboa tem uma dívida privada (109 mil milhões) que representa 42,7% dos 255 mil milhões que os privados devem ao exterior. Em segundo, vem o Porto com apenas 15%, seguido de Setúbal e Braga com 5% cada. Atente-se: mesmo com as populações mal distribuídas (facto bem sabido), a desproporção na responsabilidade da dívida é absolutamente pornográfica, sendo ainda mais desigual e injusta do que as injustiças que já todos conhecemos.

Repare-se que aqui não falamos de dívida pública. É que, muito embora os investimentos públicos sejam quase todos sulistas, ainda nem toquei nesta análise que faria descambar ainda mais a lógica desnivelada do crédito.

Falemos agora do défice comercial - isto é, a diferença negativa existente entre aquilo que anualmente importamos face ao que anualmente exportamos. Lisboa representa 80% deste défice. 80%. 4 em cada 5 euros de défice comercial é provocado por Lisboa. Imagine-se o que seria se Lisboa deixasse de adquirir uma pequena parte do que importa: era imediatamente visível um aumento de um par de pontos percentuais no crescimento económico nacional.

O Norte virou-se para o exterior porque Lisboa o rejeitou e o abandonou desde cedo. Virou-se por necessidade, porque tinha de se desenmerdar e porque é composto por gente com garra, empenho e capacidade de trabalho.

O Norte representa hoje 50% das exportações nacionais (já foram 2/3 há poucos anos) e ainda assim tem de trabalhar duplamente para compensar os desvairios e vícios da capital do império da treta. Ou seja, anda o Norte a trabalhar, a suar e a esforçar-se para que os seus impostos e os seus rendimentos gerados pela exportação sirvam para financiar luxos desproporcionais da capital, ano após ano.

Lisboa vira as costas para o Norte na altura de o apoiar e desenvolver, mas vem sempre com a mão firme para apanhar os rendimentos que lhe suportam a boa vida. É um país a dois pesos e a duas velocidades. Não admira que já se fale em guerra civil.

A minha ideia (e proposta) era autonomizar as regiões portuguesas. Só era preciso um ano (e não mais) para que Lisboa se afundasse repentinamente e se tornasse um protectorado do FMI, tendo de desvalorizar salários para metade para readquirir a competitividade que não tem e reformular completamente o seu estilo de vida. Não é que eu odeie os lisboetas; só acho é que as pessoas precisam de aprender.

|Luís Oliveira|
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(by regionalização)

1 comentário:

dragao vila pouca disse...

Zappa, contamos contigo no Movimento para mudar isto.

Um abraço